Ao iniciar a leitura do livro, pensei que se tratava de uma grande análise da enorme influência que o futebol exerce sobre todas as áreas da sociedade, no decorrer da leitura, esta expectativa se confirmou e acredito que teremos muito a descobrir com a história do futebol que se confunde com a história da sociedade, assim como a evolução sociológica da humanidade. Não sei ao certo se o futebol seria o reflexo da sociedade ou se este seria a causa/razão de certos aspectos sociais.
No capítulo inicial, quando Franklin Foer descreve as artimanhas das torcidas fanáticas que fazem do futebol um paraíso particular para exercer suas práticas gângsteres, me deparei com situações muito próximas das vividas aqui mesmo no Brasil na década de 90 (guardadas as devidas proporções), onde constantemente líamos notícias a respeito de violência entre torcidas organizadas, como por exemplo, o acontecimento intitulado de “Batalha Campal do Pacaembú” ocorrido em 20 de agosto de 1995 onde palmeirenses e são-paulinos se enfrentaram causando saldo de 110 feridos e a morte de um torcedor.
No decorrer da leitura, nos deparamos ainda com católicos e protestantes irlandeses se enfrentando na Escócia, desvirtuando por completo os princípios cristãos, ao qual estes times diziam ser representantes. Neste ponto, ficou muito clara que a intenção dos torcedores é apenas ter um motivo para realizar as suas práticas preferidas, sem ter o mínimo de critério, como provado pelo fato do time Rangers ser um representante protestante e tempos depois se tornar um representante católico. Podemos comparar este ponto com as “Cruzadas” que ocorreram entre os séculos XI e XIII, onde, fanáticos religiosos usavam a religião como motivo para alcançar suas vitórias políticas, através de guerras.
Finalmente, temos relatos da relação do futebol com o judaísmo o que nos demonstra que o esporte pode representar a potência de um povo, como é o caso de Cuba com grandes atletas que carregam não só a bandeira de seu país, como também a ideologia do comunismo. No caso dos judeus, a história foi abruptamente interrompida por Hitler.
Ao iniciar a leitura do quarto capítulo da obra de Franklin Foer, nos deparamos com uma outra face do hooliganismo, intitulando pelo autor de “sentimentalismo”. Acredito que esse seja a raiz do mal não só deste tipo de comportamento no futebol, mas também em outras esferas sociais, como por exemplo, guerras religiosas, o ceticismo e certos estudiosos, entre outros, que encaram sua fonte de atuação, com tamanha “paixão”, que acaba impedindo a compreensão do verdadeiro sentido que esta fonte se propõe, bem como os princípios das fontes contrárias a estes princípios.
Já no quinto capítulo do livro, nos deparamos com o relato da situação e história do futebol nacional, que apesar de seu considerável desempenho em campo, sofre com o que ocorre em sua administração, com a atuação de cartolas e da corrupção exacerbada que envolve enormes fontes de renda do país. A comparação da história do Pelé com a história que o Brasil atravessava é de bem pertinente, conforme demonstra os fatos narrados.
Sobre o racismo, que parecia ser um ato não praticado em um esporte tão popular futebol, percebemos que infelizmente ele é real. Ao lermos a saga de Edward (a grande promessa do futebol nigeriano), em sua temporada na Ucrânia, mas com fortes ambições de se tornar estrela do futebol ocidental, vemos que o racismo pode ser tão forte e presente até mesmo nos dias atuais. Neste capítulo do livro, podemos nos atentar ainda sobre as dificuldades e desafios que os jogadores enfrentam ao sair de seus países de origem, tendo que se adaptar com uma cultura completamente distinta da sua, novas maneiras de jogar o esporte, além das diferenças climáticas, que podem ser gritantes, como no caso da Nigéria e Ucrânia.
Na reta final da obra de Foer, nos deparamos com corajosos e impressionantes relatos sobre a classe dominante do “negócio” futebol. Saindo das fronteiras brasileiras, vemos o mesmo poderio de oligarca; como denominado pelo próprio autor; atuando no futebol. Assim como no Brasil, o esporte se torna o brinquedo de poucos e o delírio de muitos, com tamanha força, capaz de seduzir até mesmo o autor, que ao participar de uma festa de comemoração de um título, se viu completamente encantado com o grande Milan. Na minha opinião, tudo estrategicamente preparado por Berlusconi & Cia.
Não muito distante, está o Barcelona, que simboliza a mais pura nacionalidade Catalã, através de um poder paralelo, capaz de muito em seus efeitos. Em disputa contra o Real Madrid, vemos o envolvimento da política espanhola, em favor do Real o que torna o clássico completamente alheio ao brilhantismo do esporte, por suas infindáveis corrupções nos mais diversos setores.
No nono capítulo, lemos a grande força do futebol até mesmo no Oriente Médio, levando mulheres desrespeitarem as rígidas Leis locais e unir-se aos homens em um único objetivo: ver sua nação jogando uma Copa do Mundo, além de saborear o ocidente pelas transmissões de jogos pela TV, onde é possível ter contato com anúncios ao redor do gramado de produtos ocidentais. Grande é o poder do futebol, capaz até mesmo de transcender a cultura de um povo.
No último capítulo, Foer relata seu contato com o Futebol, símbolo de um novo tempo nos Estados Unidos no passado, mas que ainda hoje enfrenta grande oposição de parte da população e também de outros esportes tipicamente americanos, como por exemplo o futebol americano, o beisebol, o basquete e outros, que culmina no baixo desempenho da liga local e consequentemente da seleção americana.
Inexplicavelmente, o futebol explica o mundo. Um esporte coletivo e popular como este é capaz de coisas inacreditáveis.
Leitura indispensável para os amantes deste esporte nacional, e muito interessante para os profissionais envolvidos com esporte em qualquer nível. Apesar de ser um pouco maçante no início, a leitura vale a pena.
Abraços